Carta de uma mãe para a filha de quatro patas que partiu
Adeus, palavra curta e simples, mas com um grande significado, e que não pude te dizer, pois não encontrei um hospital veterinário que me permitisse ficar com você nas suas últimas horas de vida. Minha filha, minha companheira, minha Wenddy, logo você, que no auge de seus quase 16 anos – muito bem vividos, NUNCA ficou numa gaiola, acabou partindo de dentro de uma, e pior, seus últimos minutos, de aflição e de dor, passou sozinha, sem sua família ao seu lado.
Pesquisas feitas com veterinários informam que o último desejo de um cão é ter seu protetor ao lado, e eu, justo eu, que já salvei tantos cães, não consegui te salvar e não consegui estar ao seu lado no pior momento da sua vidinha, diferente de você que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos, isso me faz sofrer ainda mais por causa da sua repentina e dolorosa partida.
Eu tinha 19 anos quando você invadiu a minha vida. Entre tantas pessoas interessadas em você, você me escolheu, pulou no meu colo e ninguém conseguiu nos separar, o jeito foi te levar para casa. E essa foi a melhor decisão de toda a minha vida!!!
Você sempre teve meu amor, carinho, atenção, tudo do bom e do melhor e muitas vezes fui questionada e criticada por isso, por pessoas que não sabem a benção que é ter um ser como um cão, como você, em nossas vidas. A gente deixa de viajar sim, a gente investe muito dinheiro sim e o que a gente recebe não tem preço sim. Faria tudo de novo sim!
Essas pessoas também não entendem porque eu choro todas as noites, choro sempre que falo de você, choro quando vejo outro cachorrinho parecido com você e choro quando lembro de você, mas elas também não sabem o que era ter você, a felicidade que você proporcionava quando eu estava triste, as gargalhadas que eu dava quando você fazia suas artes e interagia com os personagens da TV enquanto você assistia suas novelas, a tranquilidade que você me passava quando eu estava estressada e mesmo assim você se aproximava. O nome disso é amor, quem não tem um cachorrinho como você realmente jamais vai entender como é essa entrega mutua, que vocês têm muito mais para nos dar do que para receber.
Você sempre foi muito saudável, apesar da sua idade não tomava um remédio, buscava sua bolinha inúmeras vezes – até eu me cansar, era a primeira a acordar, pedia seu pão, e sempre me dava um abraço todas as vezes que eu chegava em casa, era o melhor momento do meu dia. Agora acordo você não está mais sentada me olhando me esperando acordar, chego em casa e sua irmãzinha está sozinha sempre uivando, sua bolinha está no mesmo lugar, seu cheirinho está no ar, quando vamos cozinhar ninguém fica no nossos pés, não ouvimos mais seu ronquinho à noite e sua caminha está sempre vazia. Você era a alegria e a vida da casa, a alegria das nossas vidas!
Provavelmente você já estava doente em nossa última viagem, na qual você admirou a piscina, pulou na cachoeira, entrou no mar, correu na areia, passeou várias vezes pela ponte pênsil e cheirou todas as florzinhas do seu caminho. Como sempre você curtiu a viagem, no carro ficou o tempo todo olhando pela janela e tomando ventinho no rosto. E isso é que me conforta um pouco, ter a certeza de que sua vida foi muito feliz, porque você sim sabia viver, valorizava e curtia cada minuto da sua linda e curta vidinha.
Acredito que você não entenda o que aconteceu, vou tentar te explicar. O céu estava triste, desanimado, e Deus resolveu levar a maior fonte de alegria para lá. O caminho não foi fácil, foi através de uma doença incurável, chamada metástase, ela começou na sua pele e se espalhou, foi para o pulmão e quando chegou no seu sistema neurológico, apesar de lutar tanto, você não resistiu.
Eu não queria, mas no fundo sentia que Deus faria o melhor para você, então na noite anterior, antes de voltar para casa, como sempre, espero que você lembre, eu disse que te amava muito e que você era minha filha, minha filha amada. Esperava que estivesse melhor no próximo dia e voltasse para casa, assim como você também desejava. Só te deixamos no hospital porque acreditávamos que com o auxílio dos equipamentos e monitoramento médico você se recuperaria, voltaria para sua família, para sua casa.
Você foi muito guerreira, lutou bravamente por dez dias, seus médicos (clínico geral, oncologista, neurologista e cardiologista) também se esforçaram e admiravam a sua persistência, mas a vontade de Deus prevaleceu e você partiu no dia 11 de dezembro de 2018, o céu ganhou uma estrelinha brilhante, ativa e muito feliz. Para mim esse foi o dia mais triste da minha vida, foi muito, muito, muito doloroso ver seu corpinho cheio de lacinhos entrar naquela máquina de cremação e eu voltei para casa com um pequeno potinho de cinzas, que está ao lado da minha cama com seu identificador, fotos e alguns dos seus lacinhos.
Inconformada, quis saber o seu destino, li tantas informações sobre o paradeiro dos cães assim que partem, e me apaguei na versão de que vão para o céu curados e viram anjos ou estrelinhas. Pedi para meu avô te receber no céu e sempre te proteger, pois apesar da dor eu ainda estava com nossa família (seu maravilhoso pai e sua sapeca irmã) enquanto você partiu sozinha.
Os dias tem sido bem difíceis, sua irmãzinha também está doente, iniciou a quimioterapia um dia depois que você se foi. Ela está triste e perdida sem você, pois nos 14 anos da vida dela ela sempre teve você como guia, companheira e exemplo. Ela está respondendo bem ao tratamento e acredito que tenha uma pontinha do seu dedinho pretinho e peludinho nessa vitória que estamos tendo, afinal você sempre foi e será, literalmente, o nosso pezinho de coelho da sorte.
Levei um mês para conseguir concluir essa carta de agradecimento, com muitas lágrimas, com muita dor, e com a certeza de que você merecia algo a altura de tudo que você foi e sempre será para mim, para seu pai e sua irmã!
Meu pezinho de coelho, minha companheira, minha guerreira, minha parceira, minha filha, minha alegria, meu amor, minha Wenddyzinha, aqui fica o meu ATÉ LOGO, pois tenho certeza que nos encontraremos novamente, nesse plano ou em outro.
Fique bem e seja sempre um pacotinho de alegria!
Te amarei para sempre e minha saudade será eterna!
Aproveito para fazer um apelo para a administração dos hospitais veterinários pedindo que seja mais solidária nesse difícil momento e permita que os cães tenham a companhia de seus humanos no momento da triste e inevitável partida.
Quem ama cuida, quem ama investe, quem ama não esquece.
De Juliana Bannach para sua filha amada Wenddy
São Paulo, 13/01/2019
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